De acordo com a estimativa de preços do IRENA[1], em 2025 uma fábrica de hidrogénio deverá custar cerca de 550 €/kW. Assumindo um preço da eletricidade de 20 €/MWh, o preço nivelado do hidrogénio é 1.5 €/kg. Este preço é o mesmo do hidrogénio produzido por reformação do metano; processo atualmente usado para produzir hidrogénio, mas que tem emissões de CO2.
Muito se tem discutido sobre a viabilidade económica da construção de fábricas em Portugal para produzir hidrogénio. No entanto, se parece ser verdade que existe potencial para a produção de hidrogénio competitivo a partir de fontes renováveis em Portugal, isto só por si não assegura que os projetos a serem construídos possam dar lucro. A competência dos técnicos envolvidos, mas sobretudo dos decisores, é crítica para que se possa passar de uma situação de lucro potencial para lucro efetivo.
São elencados aqui alguns aspetos críticos para a construção de um projeto de produção de hidrogénio ganhador. Em primeiro lugar, é necessário assegurar a fonte de energia elétrica; esta tem de ser renovável e barata. Em Portugal a eletricidade mais barata é aquela que é produzida através dos painéis fotovoltaicos. Mas essa eletricidade está apenas disponível metade do tempo – durante o dia – e cerca de 3x mais no verão do que no inverno. Por outro lado, um eletrolisador para produzir hidrogénio de forma rentável tem de estar ligado pelo menos 40% do tempo, durante um ano. A operação de uma fábrica de hidrogénio exige assim uma escolha criteriosa da sua configuração, para assegurar a disponibilidade e custo da eletricidade, e de uma operação otimizada em tempo real; numa palavra, é necessário dispor de um modelo matemático que permita uma operação que minimize o custo de produção do hidrogénio. Esta minimização de custos passa, nomeadamente, por o uso de modelos de previsão que permitam comprar eletricidade de fontes renováveis sempre ao mínimo preço.
Um outro aspeto importante a ter em conta é a disponibilidade de técnicos espacializados de grande competência. A empresa multinacional portuguesa Bondalti produz cloro, soda cáustica e hidrogénio, a partir da eletrólise do sal. Esta empresa reúne o maior número de recursos humanos com experiência em eletrólise em Portugal. As Universidades e Centros de Investigação em Portugal têm também vindo a trabalhar no desenvolvimento de novas tecnologias/soluções na área do hidrogénio, assim como na formação de recursos humanos altamente qualificados.
O hidrogénio tem 3x menos energia por volume que o metano. Por outro lado, a liquefação do hidrogénio, ao contrário da liquefação do metano, é extremamente cara sendo consumidos cerca de 36% do conteúdo energético durante a sua liquefação. Também a compressão do hidrogénio a 700 bar consome mais de 9% do seu conteúdo energético; é assim um gás difícil de transportar e de armazenar. Torna-se assim claro que a logística do despacho do hidrogénio é um aspeto vital no sucesso económico de uma fábrica de hidrogénio e, neste sentido, a transformação deste em outros compostos, nomeadamente amoníaco, é uma estratégia essencial para a sua robustez económica no mercado. A valorização dos subprodutos desta indústria, nomeadamente do oxigénio, assim como a integração energética com outras unidades fabris, contribui de forma significativa para o balanço positivo do hidrogénio verde.
Finalmente, é absolutamente crítico a criação e financiamento de centros de investigação na área do hidrogénio, geridos por investigadores competentes e visionários. Esses centros permitirão que Portugal suba mais na cadeia de valor do hidrogénio verde e assim obtenha maior riqueza a partir da energia solar, tirando partido de um dos maiores recursos natural que Portugal tem: o sol[2].
[1] IRENA – International Renewable Energy Agency
[2] Portugal é o país europeu com maior radiação solar, logo a seguir a Chipre e Malta.